25 de março de 2011

Tecnologias móveis para a Copa de 2014

Por Flavio Amaral . 24.03.11 - 14h00

Tecnologias para a copa do mundo


Em uma recente viagem que fiz no final de fevereiro, decidi usar meu smartphone para conhecer a cidade, suas atrações, restaurantes, compras etc. O objetivo foi me colocar no lugar de um turista que virá para a Copa do Mundo em 2014 no Brasil equipado com um aparelho desses. Observei que há muitos desafios e limitações e para que esse evento seja bem sucedido, é imprescindível que vários setores trabalhem juntos para garantir bons serviços, segurança, comunicação etc.

A Chegada

A primeira mensagem que vejo no meu celular ao ligá-lo na cidade destino foi: “Usar Internet, e-mail, MMS e sincronismo de dados no exterior custa R$ 36,00/MB. Economize: ligue grátis e ative pacotes de roaming.” Para qualquer turista de primeiro mundo essa seria uma mensagem assustadora sobre o quão caro são as telecomunicações no Brasil. O resultado foi: evitei usar a rede da operadora e só usei redes wi-fi livres. Ruim para as empresas, que perderam a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre o meu perfil de tráfego. Portanto, atenção operadoras! Penalisar seus clientes quando eles poderiam usar suas redes no exterior (a minha operadora era também dona da operadora no país em que estava) não é uma boa ideia, uma vez que há outras formas de lucrar com isso, como explicarei adiante.

A Barreira Linguística

A não ser que os donos dos estabelecimentos comerciais comecem já a treinar seu pessoal com cursos de inglês e espanhol, alguns profissionais não estarão preparados para atender bem os turistas. A solução para isso é usar os smartphones para facilitar a comunicação. Um programa poderia traduzir os principais pratos da nossa cozinha para alguns idiomas, os aplicativos de mapas poderiam ser usados para chamar táxis e mostrar aos taxistas o destino da corrida (com o mapa mostrando em tempo real se o caminho é mais “longo”) etc. O limite de soluções possíveis é a nossa criatividade (que não é pouca) para criar produtos inovadores que podem cair no gosto desses turistas não só aqui, mas no mundo todo quando eles voltarem para casa.

Usei muito redes sociais para me comunicar com os amigos no outro país (Facebook) e para pegar dicas dos estabelecimentos comerciais ao meu redor (Foursquare). As redes sociais durante a Copa serão o grande veículo de comunicação entre os turistas. O Foursquare deixa um pouco a desejar em termos de informações mais detalhadas sobre os lugares e não cobre todos. Por isso que vejo aqui outra excelente oportunidade para empresas brasileiras criarem soluções de geolocalização com mais detalhes e recursos. Quem mais conhece o Brasil senão os próprios brasileiros e quem pode dar dicas valiosas para quem nunca veio aqui?

Além dos programas citados acima, uma solução inovadora que poderia ser implementada é um programa semelhante ao programa Siri feito para o iPhone para usuários dos EUA. Nele, o usuário apenas fala o que quer, não sendo necessário digitar nada. Ao falar “preciso de um táxi”, um táxi é chamado. Ou “preciso de um restaurante de comida típica perto de mim”, uma lista com os restaurantes classificados nesse critéirio aparece. Já testei a aplicação e funciona muito bem.

O Papel dos Setores

Tanto a Copa quanto a Olimpíada criarão oportunidades de ouro para empresas de software, operadoras e governo para geração de receitas (no caso do governo, impostos). Vamos discutir abaixo o que cada um pode fazer para aproveitar essas oportunidades.

Empresas De Software

Desenvolvam aplicativos em vários idiomas visando geolocalização com dicas, prestação de serviços etc. Por essa época, a tecnologia de chips NFC (Near Field Communications) para pagamentos usando os aparelhos celulares deverá estar consolidada e as opções aqui são infinitas. Pensem nos problemas de um turista querendo conhecer o Brasil, o que ele pode consumir e comprar e achem uma forma para ele se comunicar com pessoas aqui. O artigo do link sugere que um pagamento poderia ser feito pelos simples toque de dois fones equipados com NFC.

Operadoras

Em primeiro lugar, modernizem-se já. Coloquem jovens nas reuniões de produtos para que eles informem ao resto da diretoria sobre como as pessoas estão consumindo tecnologia hoje. Vocês se apegam a modelos de negócios antigos e se movem muito lentamente. Cobrar dos seus usuários por um simples envio de SMS, MMS ou uma ligação de poucos minutos em vez de participar mais ativamente do comércio eletrônico via aparelhos é uma grande falta de visão. Os lucros aqui são maiores. De acordo com um relatório da Generator Research, exatamente em 2014 (ano da Copa), o volume transacionado em plataformas móveis será de US$ 633 bilhões. Vocês possuem informações sobre os usuários que todo portal web sonha ter como: endereço, renda familiar (estimativa bem próxima devido aos gastos mensais), tipo de aparelho etc. E vocês ainda se contentam com serviços de voz e sms? Boa sorte…
Façam parcerias com empresas de Internet e aplicativos e reduzam os preços dos serviços cobrados dos seus usuários.

Governo

Sabendo que o país precisa melhorar muito sua infraestrutura de comunicação, nós, cidadãos pagadores de impostos, queremos que vocês façam o seguinte: incentivem empresas inovadoras com condições de créditos para financiarem sua entrada no mercado, reduzam a carga tributária no setor de telecomunicação para deixá-lo mais competitivo e próximo da realidade mundial e incentivem a inovação com condições para que novas empresas de alta tecnologia sejam criadas. Esse último tópico merece atenção: não existe empresa de alta tecnologia se ela não tiver acesso a equipamentos de última geração. Isso requer que nossa política tributária sobre taxação de produtos importados mude. Taxar todos os produtos de tecnologia igualmente não está fazendo bem ao país. A justificativa é nobre: proteger a indústria nacional e incentivar a vinda de mais empresas para cá, mas por outro lado é irreal pensar que todas as empresas do mundo terão algum dia uma fábrica no Brasil. No lugar disso, foquem em setores chave para proteção e liberem o resto. Como resultado, mais empresas locais terão acesso a bens de alta tecnologia nos mesmos valores dos outros países, o que irá nos deixar em pé de igualdade em competitividade na criação de novos produtos. O ditado popular: “quem tudo quer, nada tem” se aplica bem aqui. Se vocês precisam de conselhos, criem o cargo de CIO como Obama fez, convidando um profissional de carreira. Existem excelentes profissionais no Brasil para tal fim.

Sociedade

Se ficarmos esperando que as coisas boas aconteçam por si só, é melhor desistir. Nosso papel aqui é exigir dos políticos que elegemos que exerçam seus mandatos como nossos representantes fazendo reformas para incentivar o desenvolvimento do país. A reforma tributária, por exemplo, já está atrasada (foi promessa de campanha de todos os presidentes). Nossa tarefa é apontar o que queremos que mude e observar seu cumprimento.

Resultados

Tenho certeza que a Copa mudará o Brasil para melhor se soubermos aproveitar essa chance e mudar velhas práticas que tanto nos distanciam do primeiro mundo. O volume de negócios gerados será imenso, principalmente nas áreas de infraestrutura, telecomunicações, internet etc. É a chance de ouro que abordei em outro artigo para finalmente criarmos nosso Vale do Silício e competirmos de igual no mercado de internet mundial. Está na hora do Brasil mudar seus paradigmas, saindo do IPVA, IPTU, ISS, IPI, ICMS para iPad, iTunes, iPod etc.

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